CONTRACULTURA

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Rasos e rasuras 24/09/2012

Filed under: Uncategorized — gertrudenotstein @ 15:58

Vou ser arrogante no texto a seguir, mas chega de me importar com isso: o que mais vejo por aí é pensamento raso. Contraditoriamente, toda essa rasidão dá lugar a um poço sem fundo de bobagens. É cada frase dita de maneira final e certa, mas que na verdade não diz nada além de “não lave o cabelo se estiver menstruada” que eu fico cansada de verdade.

Tem muita gente estudada, se isso quer dizer alguma coisa (e eu acho que não quer), que parece que pulou aquela aula no maternal sobre pontos de vista. Bom, eu ainda me lembro das primeiras lições sobre ponto de vista, e foi algo como eu querer ter um brinquedo só pra mim, mas ter que emprestá-lo para os colegas. E o processo de compreender por que raios eu tinha que emprestar algo para alguém veio da compreensão de que há o outro, a necessidade dele e a justiça geral do universo no meio disso tudo e que então, o ponto de vista do outro deveria ser compreendido. E mais do que isso, deveria ser legitimado.

Talvez seja muita compreensão para uma pessoa só.

Mas o fato é que essa lição simples nos leva a coisas muito maiores, como, ao ler sobre um tema, a gente não se contentar em ficar naquelas frases chavões e de efeito. E ao acompanhar um debate, a gente entender que as coisas nunca têm um lado só. E ao ler conceitos e idéias, se lembrar que não só existem diferentes conceitos e idéias, mas também diferentes visões e acepções desses mesmos conceitos e idéias, e que cada uma dessas visões obedecem a diferentes pontos de vistas que por sua vez obedecem a diferentes interesses, contextos sócio-econômico-culturais e que também podem ter a ver com o fato de alguém ter tomado muita água ou não em tal dia. Sabe, são tantos fatores a serem considerados, que na verdade não é possível chegar a todos eles. A não ser que você tenha tomado uma dose louca de cartesianismo e ache que isso seja de fato possível, mas ó, eu não acho que seja.

Lá atrás o Nietzsche já falou em multiperspectividade que é tipo isso aí, tentar pensar nas coisas pelo maior número de perspectivas possíveis, tentar abarcar as muitas realidades que um único objeto pode ter. E tipo. Admitir que se possa ter mais de uma verdade ou possibilidade em relação a alguma coisa é só o primeiro passo. O primeiríssimo. Do tipo que você faz quando aprende que tem que emprestar o brinquedo mesmo sem querer emprestar, mesmo que no seu mundo, e no seu ponto de vista, emprestar brinquedo seja a coisa mais desnecessária, indesejável e despropositada do mundo inteiro. 

Mas tudo bem. Se não se quer ser multiperspectivético, o problema é seu. Mas o problema passa a ser meu quando a criatura vem com aquele ar de subversivo sofredor, num pondenianismo mal disfarçado ao estilo “guia politicamente incorreto”, dizer frases que todo mundo já cansou de ouvir com ares de quem diz a verdade irrefutável sobre as coisas. Como se houvesse uma verdade, e como se houvesse algo irrefutável. Ainda mais os dois juntos, então. 

E afirma o que já tá sendo afirmado há séculos, categoriza os outros em rótulos empoeirados – e injustificados – rolam os olhos como uma autoridade cansada de discursar sobre o tema, aponta o dedo para os outros e fica indignado quando alguém discorda, e aliás, todo mundo que discorda vira “comuna”. E por mais que você argumente, te rechaça com outras frases chavões, e você tem a impressão de que a pessoa anda cega e isolada pelo mundo, como um louco que só ouve a sua própria voz e só vê o que quer. Isso tudo me dá tanta preguiça que eu nem vou terminar o texto.

Tchau!